Nalgumas ocasiões, o fascinante e desconhecido mundo do esoterismo pode converter-se num terreno escorregadio, atraente e perigoso para todas aquelas pessoas que se deixam influenciar pelo lado obscuro do comportamento humano e pelas possibilidades fantasiosas de sucesso fácil.
A sociedade, ao longo de sua história, tem registado uma grande quantidade de crimes e homicídios de assustadora crueldade e propósitos torpes relacionados à crenças religiosas. Devemos pensar nesses crimes sob 2 pontos de vista; primeiro, devemos avaliar se eles não satisfazem aspectos de uma natureza humana destrutiva, ambiciosa e cruel (vide Estado Natural do Homem de Thomas Hobbes). Só depois disso, devemos ver se eles não refletem uma insanidade que encontrou no fanatismo religioso vazão às fantasias e aos delírios da doença.
A dinâmica desses crimes é variável, reflectindo desde pretensas inspirações divinas, esdrúxulas influências diabólicas, espiritistas ou extraterrestres, até estranhos rituais com propósitos exclusivamente hedonistas ou egoisticamente interesseiros, resultando em brutais assassinatos, algumas vezes em massa.
Não são incomuns também os fanáticos idealistas que não titubeiam em sacrificar a própria vida ou a de seus seguidores por convicções extremas e absurdas. Existem ainda os pseudo-exorcistas com conceitos alterados da realidade, onde sua obsessão em acabar com um mal ou liberar um corpo supostamente possuído por espíritos, vampiros e diabos, acabavam promovendo torturas, agressões e mesmo assassinatos. É de se perguntar se, às vezes, essas pessoas não estariam extravasando suas próprias inclinações sádicas nos exorcismos com agressões físicas.
Sempre existiram grandes quantidades de denúncias sobre "seitas satânicas", supostamente implicadas em todo tipo de delitos, desde macabros assassinatos rituais, profanações, tráfico de drogas, prostituição, etc. A figura do demónio tem servido à todo tipo de aberração da personalidade ou como bode (e bode é do diabo) expiatório das psicopatias e sociopatias.
Assim, casos tão dramáticos como o do Albaicím ou o de Almansa, onde uma mulher e uma menina morreram depois de serem ambas submetidas a selvagens "exorcismos" procedidos por crença cristã. Convencionalmente, os crimes ainda serão chamados de satânicos, mesmo quando, na realidade, foram cometidos em nome de Deus, certamente por não existirem crimes chamados divinos.
Caso Ricky Kasso
Ricky Kasso era um jovem de 17 anos de idade que residia em Northport, Long Islande. Apelidaram-no de "Rei do Ácido", devido à sua afeição às drogas alucinogéneas.
Em 1984, a polícia de Northport recebe uma chamada telefônica declarando que havia sido achado um corpo semi-enterrado num pequeno bosque de Aztakea. Um grupo de agentes se dirigiu ao lugar com a intenção de comprovar a veracidade da chamada, e efectivamente, nos bosques se encontrou o corpo de Gary Lauwers.
Por o elevado grau de decomposição do cadáver se estimou que devia levar ali mais de duas semanas. O homem havia sido apunhalado 32 vezes, das quais umas 22 na face. Devido ao mal estado do corpo, os agentes não poderiam assegurar o número exacto de feridas, podendo ter sido um total de cortes maior ao precisado.
A polícia enfocou sua investigação sobre dos jovens bastante conhecidos no mundo policial como consumidores de drogas habituais e por cometer actos de vandalismo próprios de adolescentes. Se tratava de Ricky Kasso e seu amigo James Troiano. Os dois haviam deixado a escola secundária e se dedicavam a andar à toa pelas ruas.
Eram dos personagens curiosos, Troiano tinha o recorde de detenções por roubo, enquanto Kasso reunia detenções por casos mais estranhos, sendo a última por ter profanado uma tumba do século 19, tendo roubado um crânio e uma mão. Segundo suas declarações, pensava utilizar o material roubado num rito satânico.
Pouco depois foram postos sob custodia, e num interrogatório quase de rotina, ambos confessaram aos agentes terem cometido aquele assassinato. Diziam que tinham se unido a um grupo satânico local, conhecido como "Os Cavaleiros do Círculo Negro", o qual tinha ao redor de vinte membros e era conhecido por seus sacrifícios animais a Satã.
Atribuíram ao crime parte de um rito satânico, no qual haviam extraído os olhos da vítima. Kasso declarou que estava no bosque com Lauwers e dois amigos, Quinones e Troiano. Disse que começou a sentir-se extremamente agressivo, então começou a golpear a Lauwers até perder o controle. Logo reconheceu haver sacado uma faca e apunhalado gritando "Diga que ama a Satanás". Como o agredido contestava dizendo que "Não, eu só amo a minha mãe", matou-o.
Quando viu o que havia feito sentiu medo mas, nesse momento, disse ter escutado o canto de um corvo que, em sua mente, identificou como um sinal de Satanás dizendo que o crime havia sido em sua homenagem, sendo um fato positivo para ele. Por outro lado, quando James Troiano foi interpelado em juízo por assassinato em segundo grau, declarou que nem o grupo de satanistas "Os Cavaleiros do Círculo Negro", nem o satanismo em geral haviam tido nada a ver com o crime.
Ele afirma ter sido apenas uma testemunha do assassinato, junto com Alberto Quinones. E, mesmo o satanismo não estando envolvido com o assassinato, admitiu que Kasso tinha um estilo de heavy metal muito duro e bastante relacionado com o satanismo, mas que as drogas haviam sido o fator principal do crime. O ato que motivou o assassinato, de fato, foi que Lauwers tinha roubado dez papelotes de droga de Kasso.
Para finalizar, em 7 de Julho de 1984, Richarde Kasso suicida-se na prisão de Riverheade, em Nova Iorque. Anos mais tarde, em 1992, baseado na história de Ricky Kasso, saia o filme My Sweet Satam (Meu Doce Satanás), escrita, dirigida e interpretada por Jim vam Bebber.