MAPA DO CRIME: Criminologia Aplicada

OPINA!
Se soubesses que um amigo teu era um ex-recluso:
Afastavas-te rapidamente
Davas-lhe uma chance
Fingias que não sabias
Contavas a toda a gente
Perguntavas-lhe k fizera
Mudavas de casa/escola
Ver Resultados

Rating: 2.5/5 (236 votos)







VIOLÊNCIA E SAÚDE

 

  É habitual a questão do crime envolver uma série de reflexões e comentários que ultrapassam em muito o acto delituoso em si; são questões que resvalam na ética, na moral, na psicologia e na psiquiatria simultaneamente. Sempre há alguém atrelando ao criminoso, traços e características psicopatológicas ou sociológicas: porque Fulano cometeu esse crime? Estaria perturbado psiquicamente? Estaria encurralado socialmente? Seria essa a única alternativa? Ou, ao contrário, seria ele simplesmente uma pessoa maldosa? Portadora de um carácter delituoso, etc.

  Na década de 80, alguns estudos epidemiológicos realizados na Alemanha (H. Haefner e W. Boeker -1982) comprovaram que não havia doentes mentais em excesso entre os criminosos violentos, quando comparados à população geral. Seguiram-se inúmeros estudos sobre a associação doença mental-violência, incluindo a ampla investigação norte-americana (Epidemiological Catchment Area -Swanson et al. 1997). 

 Aliás, se a estatística tem mesmo valor para deduções, os pesquisadores comprovaram que a idade média do doente mental criminoso, por ocasião da prática do crime, era 10 anos maior do que a do criminoso da população geral, sugerindo assim que a doença mental até retardaria a expressão do ato de violência.

 

  A questão da violência, como um forte agravo à saúde e como agente quase epidémico de severos transtornos ao bem estar das pessoas, tem sido e será um difícil problema médico a resolver; primeiro porque desafia os conceitos e métodos até hoje empregados pelos sanitaristas ao tratarem endemias e epidemias. Segundo porque, nesse caso, a medicina esbarra em variáveis que fogem totalmente de sua alçada.

  De qualquer forma, ao menos inicialmente, a medicina deverá abordar o problema dos transtornos decorrentes da violência, em suas mais variadas formas, como uma questão patológica determinada por "causas externas". Essa postura, sob o risco da parcialidade, comporta (e carece) revisões e reavaliações.

  Em tese, academicamente, "a violência consiste em acções de pessoas, grupos, classes ou nações que ocasionam a morte de seres humanos ou que afectam prejudicialmente sua integridade física, moral, mental ou espiritual". Para início de discussão está bom esse conceito, embora um dos aspectos mais relevantes esteja, talvez, na angústia, medo, fobia e toda sorte de ansiedades e depressões que as pessoas experimentam diante da simples possibilidade das acções referidas no conceito acima, antes mesmo de terem sido perpetradas.

  Para investigar a origem da violência todos reconhecem seu aspecto pluridimensional mas, para facilitar a abordagem, destacam-se três grandes tendências:

  A violência em si, não é objecto específico da medicina na medida em que representa um processo social, portanto, muito mais atrelada à política e sociologia. Interessa sim, aqui, comentar sobre os efeitos da violência sobre a saúde das pessoas. Um débito da violência que raramente é publicada na media, preocupada muito mais com a descrição e teatralização do ato violento em si, do que com as consequências deste sobre a felicidade e saúde das pessoas.

  O psicólogo alemão Mitscherlich (1971), citado por MINAYO e SOUZA, crê que qualquer modificação nas relações sociais só será possível se houver mudanças na constituição psíquica do ser humano, tendo como ponto central a reconstrução de sentimentos e emoções. Mas essa afirmativa merece uma reflexão maior, pois, às vezes, chegamos a pensar exactamente o contrário, ou seja, que as mudanças nas relações sociais acabaram atropelando a constituição psíquica humana que sucumbiu diante de novas e contundentes exigências de adaptação. Com isso, houve um visível crescimento das tendências anti-sociais, do isolamento, do medo colectivo e individual, da intolerância extremada e da alienação dos indivíduos.

  Se antes havia uma preocupação em prevenir a violência ideológica dos preconceitos, hoje talvez esse não seja o problema, pois as pessoas estão deixando de ter preconceitos para odiarem a todos indistintamente.

  Mas a violência tem sim algo a ver com a saúde. MINAYO e SOUZA citam Agudelo (1990), segundo o qual "a violência afecta a saúde porque ela representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a vida, altera a saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade próxima". Citam ainda que a própria Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) declara que "a violência, pelo número de vítimas e a magnitude de sequelas emocionais que produz, adquiriu um carácter endémico e se converteu num problema de saúde pública em vários países. ... O sector de saúde constitui a encruzilhada para onde confluem todos os corolários da violência, pela pressão que exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência, de atenção especializada, de reabilitação física, psicológica e de assistência social" (1995, 1993).

  Em nosso país, a partir da década de 1980, as mortes decorrentes de violência passaram a constituir a segunda causa do obituário geral, abaixo, apenas, das doenças cardiovasculares. De acordo com Minayo, os acidentes de trânsito e os homicídios respondem por mais da metade das mortes por violência, sendo baixa a incidência de outros eventos (suicídios e demais acidentes).

  Porém, o problema não seria tão grave se toda essa questão fosse reduzida às lesões físicas decorrentes da violência. Em psiquiatria os dados são muito mais graves. Enquanto as lesões físicas têm um prognóstico razoavelmente bom, as lesões emocionais costumam evoluir mal, enquanto as lesões físicas afectam a pessoa agredida, as lesões emocionais podem acometer uma comunidade inteira. A epidemiologia dos problemas psiquiátricos decorrentes da violência é uma incómoda incógnita científica... mas que os há, há.

 

 


Criar uma Loja online Grátis  -  Criar um Site Grátis Fantástico  -  Criar uma Loja Virtual Grátis  -  Criar um Site Grátis Profissional